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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal de Plantão

Natal de plantão Dizem que nós, jornalistas, somos como médicos. Não temos horário certo de trabalho. Estamos na labuta nos fins de semana e feriados. De vez em quando, damos plantão. Podemos ter turno diurno ou noturno. Em grandes tragédias, médicos salvam vidas. Jornalistas informam a população sobre a dimensão da situação. Nosso telefone pode tocar de madrugada ou de manhã bem cedo. E foi isso que aconteceu comigo na última semana. Participando ativamente da cobertura do caso do menino Sean Goldman para emissoras de TV e rádio americanas, meu telefone não parou. Fui acordada de madrugada e quando já ia voltar a dormir, o telefone tocou de novo. NY querendo notícias. LA querendo saber das novas. Houston pedindo informações. Os EUA inteiros ligados na história do pai americano em busca do seu filho “sequestrado” no Brasil, como eles dizem. O juiz de plantão disse que o resultado sairia na segunda. Todos a postos na porta do hotel onde está hospedado o pai biológico, Sean Goldman. Jornalistas ligando sem parar para o STF em BSB e para os advogados para tentar descobrir alguma informação. A segunda-feira acaba e nada. No news! Os americanos não entendem. Mas como? O juiz não disse que ia sair hoje? Disse, mas não saiu. O que posso fazer? Mas ele disse quando vai sair? - me perguntam. Disse que deve sair amanhã. Há! Então amanhã sai, né? Bom, ele disse o mesmo hoje, como posso garantir? Meus chefes gringos ficam cada vez mais confusos. Entrei ao vivo por telefone para rádios americanas diversas vezes nos últimos dias, chegando quase a esquecer que já era anti véspera de Natal. E os presentes que faltam comprar? Paciência, trabalho em primeiro lugar. Já que não estarei no Brasil 24 e 25, decidimos lá em casa antecipar a data e fazer um jantar pré Natal. Durante todo o dia, entre decorar a casa, comprar os presentes em cima da hora, dar as coordenadas para a equipe do buffet e ir ao salão se embelezar, tive que ficar ligada `a internet e aos coleguinhas que estavam de plantão como eu. E aí, hoje sai? Já está um dia atrasada a decisão, né? Sim, está! Disseram o horário, me perguntam. Não, continuamos aguardando... Já passavam das 20hs quando achei que pronto, de novo, não era o dia e cheguei a pensar que o resultado só sairia mesmo ano que vem. Recebo a equipe do buffet, unhas feitas, escova perfeita, maquiagem pronta, toda arrumada e cheirosa. Os convidados começam a chegar. Instaura-se o clima de Natal: muitos presentes, familiares se confraternizando, flashes rolando. De vez em quando, um email apita no Iphone e sou obrigada a responder. E eis que bem na hora que começa o amigo oculto, minha querida amiga Luciani, da CNN me liga e fala correndo em vinte segundos: saiu a decisão! Sean vai voltar pros EUA. Não posso falar agora, tchau! Não acreditei! Em todos os momentos que esta notícia poderia sair, tinha que ser justamente AGORA??? Saí da sala discretamente e vooei pro computador pra informar minha emissora nos EUA. Meu cel não parava de tocar. O tel fixo também. Até o tel do meu marido tocou! (Será que dei esse número também? Ai, meu Deus!). Escrevi rapidamente meus textos enquanto meu enteado entrava no quarto para avisar que meu presente do amigo tinha sido “roubado”. (Tudo bem, era “amigo roubado” mesmo.) Termino de entrar ao vivo para mais uma rádio e volto pra sala discreta e sorridente. O amigo roubado continua, todos muito animados, bebidinha rolando, comidinhas ótimas. Todos parecem se divertir. Por dentro, ainda me preocupo em saber se fiz direito meu trabalho e torço para não me ligarem mais. Mas vida de correspondente é assim. A notícia não escolhe hora e ela está sempre em primeiro lugar. Feliz Natal!

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